06 maio, 2014

Luz


"Tenho prints dos nossos melhores momentos. Fotos suas, fotos das nossas declarações, muitas fotos arquivadas nessa pasta que agora se chama "tempo".
 Bem que dizem que quando se ama, não se vê limites para o amor pois vejo, nesse nosso baú de conversas, o quanto nos permitidos ser. Fomos aos 220v sem medo de sobrecarga, curto circuito, apagão; e ligamos tantos planos às tomadas do coração, que as informações, em algum momento, deixaram de ser codificadas, obrigando-nos a seguir numa corrente constante.
 Eu achei que tudo andava bem, mas o erro estava subentendido nas paredes da paixão, impedindo-nos de reconhecer os vestígios da tragédia. 
 Desculpe, há uma falha na última frase. Uma precipitação, aliás, mais uma dentre as que cometi e cometemos. Não houve tragédia. Você foi rápido o bastante para desligar os dejuntores. Você interrompeu de forma brusca, trouxe o apagão, queimou umas ou outras certezas (planos). Ainda não me acostumei com essa ausência de luz, com a sua ausência. 
 Me pego acendendo os interruptores dos cômodos, e quando nada acontece, quando não há felicidade, ou luz, quando não há você, a saudade me toma em choro e dou conta de mim. Dou conta de que hoje não será possível que tudo funcione perfeitamente. 
Podemos enganar aos outros mas ainda há corrente aqui no fundo. A memória busca o tempo todo lembranças daqueles dias afim, de não esbarrar nos objetos e nos machucar ainda mais."

Nathalia Pacheco - Surpresas Inesperadas

Nenhum comentário: